Seminário Pibid-FGV História

Data da atividade: 

06/11/2014
  • Documento de trabalho

Autor: 

  • Verena Alberti

"Pensando o Pibid" - troca de mensagens com o professor Everardo Andrade (UFF) sobre o Seminário Pibid

De: Verena Alberti
Enviada em: quarta-feira, 5 de novembro de 2014 19:18
Para: 'everardo_andrade'
Cc:
Assunto: RES: Pensando o PIBID

Obrigada, Everardo!

Tenho a impressão de que todos esperamos ter amanhã uma experiência densa desse processo de trans-formação que você descreve.

Um abraço,

Verena

De: everardo_andrade

Enviada em: quarta-feira, 5 de novembro de 2014 09:29
Para: Verena Alberti
Cc:
Assunto: Pensando o PIBID

Prezada Verena; prezados companheiros Coordenadores, bom dia!

Vivemos cotidianamente essa experiência com o PIBID, mas na correria produtivista a que todos estamos expostos, nem sempre temos a oportunidade de registrar por escrito nossas reflexões, experiências e intuições. Agradeço à Verena pela oportunidade que me fez parar um instante e redigir um brevíssimo texto, que compartilho nesta mensagem.

Abraço fraterno,

Everardo.

 

PIBID COMO PERCURSO DE TRANS/FORMAÇÃO:

Protagonismo compartilhado na relação entre Universidade & Escola

Prof. Dr. Everardo Paiva de Andrade

FEUFF – Coordenador PIBID de História

A cultura da universidade, quando colocada em face de outras culturas institucionais, mesmo que em ações interessadas em parcerias e diálogos, possui forte poder conformador e, nesse sentido, tende a verter para sua própria linguagem os termos em que a parceria e o diálogo devem ser colocados. Com o PIBID não haveria de ser diferente. Talvez por isso seja ainda mais importante explicitar três latências diretamente relacionados àquelas três missões assumidas pela universidade como instituição moderna: a pesquisa, o ensino e a extensão.

Em primeiro lugar, cumpre destacar que o PIBID não é ensino, no sentido de que não é aula ministrada pelo professor da Universidade, nem para o licenciando em formação inicial, menos ainda para o professor da escola em formação continuada. Em segundo lugar, também não é extensão: não se trata de transferir e socializar as descobertas realizadas em atividades desenvolvidas internamente à sociedade ao redor. Finalmente, não é pesquisa porque não vai à escola tomar dados para análise a partir de uma construção teórica prévia.

Dizendo francamente, o PIBID é, na verdade, e antes de mais nada, um programa voltado para a formação docente. Por esse motivo destina-se, prioritariamente, aos estudantes inscritos em cursos universitários de formação de professores, isto é, as licenciaturas. Mas traz implícita a compreensão de que a universidade sozinha não dá conta dessa formação: ela precisa da escola e dos professores que estão na escola, futuro antecipado, em certa medida, aos licenciandos. Mas também esse futuro antecipado no presente deve ser colocado em questão.

Decorre daí que também a melhoria da qualidade da escola pública e do trabalho de seus professores deve estar comprometido no Programa. Por isso mesmo, não são apenas os estudantes das licenciaturas que estão em formação: também os professores encontram-se em processo de formação continuada, e essa formação ocorre na medida em que orientam licenciandos e confrontam suas expectativas, ainda fortemente marcadas pela vida universitária, aos desafios colocados pelo cotidiano escolar.

Quer dizer, então, que a formação continuada dos professores da escola significa não só revisar conteúdos e métodos e repensar teórica, prática e politicamente os problemas da profissão, mas também atualizar sua própria condição de formadores dos professores, seus futuros pares. O conceito de reorquestração de saberes entre formação inicial e prática profissional talvez ajude a descrever esse movimento segundo o qual alguém torna-se professor pela mediação teórica, mas também pela mediação propriamente profissional.

Quando se trata, porém, de trabalhar pela melhoria da educação básica pública e do trabalho de seus professores, também a qualidade dos cursos universitários de formação docente precisa ser repensada – e aqui está o terceiro compromisso do PIBID. Nesse caso, trata-se de rever o papel dos professores universitários, aprofundando suas relações de parceria e diálogo com a escola básica e seus profissionais, iniciando também um movimento de formação continuada, em sua condição de formadores de professores.

Por fim, é preciso reconhecer que não se trata de mero investimento quantitativo na concepção tradicional de formação como relação linear e unívoca entre um formador e um formando: trata-se de um processo circular em que todos se formam, formando-se mutuamente. Não se formam, porém, para as mesmas coisas. A formação proporcionada pelas ações desenvolvidas no PIBID forma, simultânea e reciprocamente, o professor para a educação básica, o formador de professores na escola e também o formador de professores na universidade.

Por esse movimento, talvez inédito na política pública brasileira em relação à universidade, em que a formação docente recebe apoio, recursos e um significado que se estende através da formação, mas para além da formação de apenas um de seus sujeitos, é que se diz que o PIBID consiste num movimento de trans/formação. No fundo, licenciandos em formação inicial, professores da escola e da universidade, respectivamente supervisores e coordenadores do Programa em processo de formação continuada, são todos bolsistas.

Falar de protagonismo compartilhado significa reconhecer a diferença de papéis e, ao mesmo tempo, as múltiplas formas pelas quais cada qual assume suas responsabilidades e seu compromisso com esse contexto formativo.

FGV / CPDOC, novembro de 2014.


Everardo Paiva de Andrade
FEUFF - Faculdade de Educação
Grupo de Pesquisa Currículo, Docência & Cultura

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