Visita ao arquivo do Ceac

Data da atividade: 

07/08/2014
  • Caderno de campo

Autor: 

  • Felipe Brito Macedo

Combinamos com o professor Josimar, supervisor do PIBID no Colégio Estadual Amaro Cavalcanti (CEAC), que no dia 7 de agosto de 2014 faríamos a primeira busca no arquivo do colégio, a fim de cumprir um dos objetivos de nosso projeto, que é utilizar essa documentação para fins pedagógicos com os alunos. Desde o início, já tínhamos em mente, para este ano de cinquentenário do golpe militar de 1964, pesquisar documentos de alunos que lá estudavam à época, e da própria escola, como atas de reuniões e determinações internas, para trabalhar com os alunos de hoje o que essas fontes nos informam sobre os alunos de ontem e seu tempo.

Na primeira visita que fizemos ao colégio, a funcionária da secretaria nos informou que há no colégio duas salas com arquivos. Uma delas fica no saguão central do prédio e armazena basicamente fichas escolares dos alunos que lá estudaram, desde a década de 1920 (ou 30, preciso conferir) e algumas outras documentações da escola, mas só posteriores à década de 1980. A outra é menos acessível, não sabemos exatamente qual o tipo de documentação que tem nela, parece que a sala está em péssimo de estado de conservação, com muita umidade e alguns insetos. Nesse nosso primeiro dia de busca no arquivo, não tivemos acesso a essa última sala novamente. Portanto, todos os dados aqui apresentados são referentes à sala de arquivo do saguão central.

Quando cheguei ao colégio por volta das 15 horas, Caio, outro bolsista de nosso projeto, já estava na sala da secretaria analisando alguns documentos antigos de alunos. Ele avisou à secretária o porquê de nossa visita e ela, já ciente que nosso projeto pesquisaria no arquivo, começou mostrando a ele documentos de pessoas “ilustres” que passaram pelo CEAC. Segundo a secretária, alguns anos atrás um grupo veio procurando esses documentos específicos e, depois de consultados, o colégio os guardou quase todos em sacos plásticos, separados dos outros em um armário da secretaria. Curiosos pelo conteúdo, começamos a folhear os documentos não embalados. Quando o professor Josimar chegou à sala da secretaria, nos autorizou a tirar os documentos do plástico cuidadosamente (usávamos luva e máscara, procurando não dobrar ou rasgar algum grampo). Nessa oportunidade tiramos diversas fotos dessa documentação para análise posterior.

Dentre os supostos famosos, pudemos identificar Senor Abravanel (Sílvio Santos, o apresentador e empresário), Paulo César Batista de Faria (Paulinho da Viola, sambista e compositor) e Antônio Houaiss (filólogo, escritor, diplomata, membro da Academia Brasileira de Letras e autor do famoso dicionário que leva seu nome). Havia ficha de outros alunos que não sabíamos quem eram nem achamos referências rápidas sobre eles na internet (Google). Essas fichas tinham alguns tipos de documentos encontrados em praticamente todas as pastas da sala do arquivo posteriormente: o requerimento de matrícula preenchido pelo responsável, boletim escolar de todos os anos cursados, certificado de vacinação, certificado de aprovação no exame de admissão e o trancamento da matrícula, seja formado ou desligado.

Pouco tempo depois a professora Verena Alberti chegou ao colégio para acompanhar esse primeiro dia. Depois de olhar brevemente os documentos selecionados, nos dirigimos todos à sala de arquivo, onde fomos instruídos pela secretária a localizar a documentação dos alunos através de um fichário organizado por ordem alfabética. A ficha indicava o nome completo, os anos que o aluno passou no colégio e o número da pasta do arquivo que contém seus documentos.

Nossa busca começou sem um objetivo fechado. Pela curiosidade de conhecer um pouco da totalidade do arquivo, abrimos pastas de variados períodos, desde as mais antigas das primeiras décadas do século XX. Tínhamos em mente algumas questões, como localizar as pastas da década de 1960 (época que pretendemos trabalhar com os alunos), entender as mudanças institucionais gerais no colégio e encontrar documentação da escola em si (e não apenas fichas dos alunos, mas atas de reuniões, regimentos internos etc.). Nessa busca exploratória, porém, nosso objetivo principal era ganhar familiaridade com o arquivo e, de fato, pudemos perceber regularidades nos documentos pessoais encontrados. A seguir, descreverei brevemente componentes dessa documentação que, no geral, estão presentes em todos os documentos pessoais de aluno. É importante frisar que essas informações variam um pouco conforme o período. Nesse resumo utilizo por base as fichas[1] de meados da década de 1960, mas há elementos comuns a outros períodos. Todos os abordados a seguir, pelo menos, são recorrentes, desde as fichas mais antigas, da década de 1930, até o período estudado, mudando apenas o conteúdo de cada componente.

  • Requerimento de matrícula – Esse documento é a “capa” de cada arquivo pessoal. Preenchido pelo responsável do aluno, contém informações sociais, como a religião, nacionalidade (do aluno e dos responsáveis), condição financeira (“rico”, “pobre” ou “remediado”), endereço e profissão dos responsáveis, além de uma foto 3x4 do aluno.
  • Certificado de aprovação no concurso de admissão ou de transferência interna – Não podemos afirmar que todas as fichas possuam esse componente, mas a grande maioria possui um dos dois documentos que confirma e legitima a entrada do aluno no colégio. No caso do certificado de aprovação, as notas dos alunos no exame também aparecem. É comum também encontrar certificados de conclusão do primário ou do ginásio secundário (dependendo da série do ingressante).
  • Carteira de vacinação e atestado médico – É a garantia de que, em tese, o aluno não tem doenças contagiosas ou alguma adversidade que o impeça de estudar no CEAC.
  • Solicitações de rematrícula – Nem sempre encontramos o documento relativo a cada ano que o aluno cursou. Não sabemos se o colégio só armazenava alguns anos específicos ou se a rematrícula não era anual. Entretanto, a maioria das fichas tem pelo menos uma solicitação.
  • Boletim escolar anual – Especificando as notas do aluno por matéria mensalmente, assim como o curso em que está matriculado (diferenciarei a seguir) e a frequência nas aulas, bem como sua aprovação ou não naquele ano letivo.
  • Certidão de nascimento – todas as fichas encontradas têm uma cópia autenticada da certidão de nascimento dos alunos.

Além desses componentes, pudemos constatar que houve uma mudança de nome do colégio por volta de 1963, que deixou de ser Escola de Commércio Amaro Cavalcanti para ganhar o nome que tem hoje em dia. Como o nome antigo sugere, o colégio era técnico, formando principalmente na área de administração e negócios. Pela comparação de diferentes fichas e, principalmente, analisando fichas de alunos que passaram muito tempo no colégio (como 7 ou 8 anos), constatamos que, até a década de 1960, pelo menos, a escola oferecia tanto o ginásio secundário (similar ao que hoje é o segundo ciclo do ensino fundamental), como o científico (similar ao que hoje é o ensino médio). Como a nomenclatura varia mesmo dentro de um ano específico (se compararmos duas fichas diferentes) não soubemos ao certo identificar quais os cursos oferecidos. Entretanto, constatamos que o ginásio era por vezes chamado de ginásio comercial[2] e o científico, aparentemente, tinha o curso regular, o técnico em contabilidade e o técnico em comércio[3].

Sobre os alunos em si, não tivemos contato o suficiente para sugerir padrões, mas, entre as fichas que especificavam a condição social (entre rico, pobre ou remediado), não achamos nenhum que indicasse “rico”. Encontramos também muitos alunos estrangeiros ou filhos de estrangeiros, como são os casos de Silvio Santos e de Antônio Houaiss, alunos ilustres já mencionados. Outro aspecto que devemos considerar é que os cursos técnicos tinham muito poucas mulheres matriculadas.

Depois dessa busca exploratória que nos rendeu a maioria dessas informações, decidimos separar todas as pastas com documentação de alunos do CEAC entre os anos de 1963 e 1965. Já tínhamos encontrado algumas na primeira etapa e procurávamos sempre abrir pastas referentes a períodos próximos a este, sempre no intuito de ter um panorama, mas buscando informação para trabalhar um período específico. Várias informações acima mencionadas como recorrentes desde os primeiros anos do arquivo foram extraídas dessas pastas também. A ordem de apresentação dos dados, portanto, não corresponde exatamente à ordem de sua descoberta, mas a uma adaptação para melhor entendimento desse relatório. O que quero destacar é que nossa última tarefa nesse dia foi preparar a documentação para nossa próxima visita, separando as pastas de maior interesse para nossa pesquisa das outras, para, em outro momento, ir diretamente a elas. Foi assim que terminamos nosso primeiro dia de pesquisa no arquivo do CEAC.


[1] A ficha, na verdade, é apenas um pedaço de papel no fichário que remete à documentação nas pastas. Porém, para fins de praticidade, trataremos o conjunto de documentos pertencentes a um único aluno também por “ficha”, como se fossem uma extensão da informação resumida encontrada no fichário alfabético.

[2] Não temos certeza se existia um ginásio regular e outro comercial, ainda cabe investigação. Também encontramos a nomenclatura “comercial básico”, que, pelas evidências encontradas, parece referir-se também ao ginásio comercial, mas não temos certeza absoluta.

[3] Também não temos certeza se eram exatamente esses os cursos oferecidos. Essa é uma questão que invariavelmente teremos que pesquisar mais, não só no próprio arquivo, mas em outras documentações. Encontramos algumas referências à legislação regulatória do ensino comercial, que pode e deve ser explorada no decorrer desse projeto.