Primeira visita ao CEAC
Data da atividade:
- Caderno de campo
Autor:
- Felipe Brito Macedo
Chegamos ao Colégio Estadual Amaro Cavalcanti (Ceac), no Largo do Machado, por volta das 15h do dia 14 de março de 2014, sob intenso calor. Admiramos a bonita fachada do edifício construído em 1874 por ordem do Imperador, para ser um colégio secundário. Algumas placas comemorativas indicavam que o Ceac também já foi colégio técnico em contabilidade pelo menos até os anos 1990 (não descobri quando teve início, mas era um centro de ensino em administração a ciências atuariais). Procurei no site do Ceac, mas a página “Nossa História” informava que a seção ainda está “Em pesquisa”. Penso que poderia ser um dos produtos do projeto. O prédio tem grande riqueza arquitetônica e, pelo tempo que abrigou atividades de ensino, guarda consigo memórias de diversas mudanças de política educacional desde o Império até os dias de hoje, seja em sua arquitetura, nas lembranças de funcionários e alunos ou documentos escritos lá armazenados.
A entrada dos alunos não é pelo portão frontal da fachada histórica, mas pela lateral, onde um corredor aberto, que beira a construção, leva a um pátio coberto no fundo, pelo qual entramos em um prédio anexo construído nos fundos com passagem para o prédio principal. Éramos sete: cinco alunos, a prof.ª Verena Alberti, coordenadora do projeto, e a prof.ª Júlia O'Donnell, subcoordenadora de graduação. Layssa, uma das alunas que é também estagiária no Ceac, nos indicou onde ficava a sala da direção, pois tínhamos agendado uma reunião para apresentação do colégio. Chegamos à porta da direção, que estava trancada a cadeado, sem informações sobre a diretora. Subimos a escada e entramos na sala dos diretores de turno (no caso, lá estavam as diretoras do turno da tarde), onde fomos informados que a diretora não estava no colégio.
Descemos para o salão da entrada principal do colégio, a qual geralmente não fica aberta (lembrando que entramos pela lateral). O espaço é amplo, com uma escada central restrita aos professores, pois os alunos devem usar a dos fundos, por uma questão de convenção da escola, nas palavras do prof. Vitor Paulo, coordenador do projeto Pibid na escola, que nos acompanhou na visita devido à ausência da diretora. Há uma bonita estátua em mármore que representa uma mulher ensinando uma criança o texto de um pergaminho, com alguns objetos como um globo, um esquadro e livros. Nas paredes do salão de entrada estão fixadas as várias placas comemorativas já citadas. Depois de algum tempo de espera, em vão, pela diretora, o prof. Vitor Paulo passou um trabalho para sua turma e veio nos guiar pelas instalações, apresentando o colégio como estava combinado.
Conhecemos primeiro a secretaria, no andar térreo, que conta com três ou quatro funcionários. Uma das secretárias, que atendia um aluno, tinha a chave do arquivo, que era um dos espaços que mais queríamos visitar. Indagada se abrir a sala para que visitássemos o arquivo não atrapalharia seu trabalho, ela informou que o sistema estava muito lento e não haveria problema. A sala do arquivo, a que se tem acesso por uma porta situada no salão de entrada do colégio, tem seus documentos armazenados em armários e caixas, mas longe do ideal de preservação ou organização. Mesmo assim, ficamos bastante entretidos vendo os antigos documentos do colégio, como uma ficha de estudante da década de 1930, por exemplo. Esse arquivo com certeza deve ser explorado, pois parece ser muito rico em memória da educação, devido à vasta extensão temporal que ele abrange. Além dessa sala citada, parece haver outra sala a que nós não tivemos acesso ainda onde estariam os documentos dos anos 1950 até 1980.
Seguimos a visita para a quadra, que fica atrás do prédio principal, ao lado do anexo construído. Em seguida fomos ao refeitório, no térreo do anexo, que, com certeza, não corresponde à necessidade do colégio, em termos de número de mesas para os alunos. Nos dois andares acima há um corredor com salas de aula em ambos os lados e, no último andar, há uma quadra que não visitamos, mas é utilizada para educação física. Segundo o prof. Vitor Paulo, as salas que ficam viradas para a quadra são muito barulhentas devido às atividades esportivas e frequentemente deve-se trocar de sala em busca de um ambiente menos agitado.
Nesse meio tempo também fomos à biblioteca, que, segundo o prof. Vitor Paulo, mudou de lugar recentemente, mas não fica aberta o tempo inteiro por falta de funcionários. Ela inclusive não estava aberta quando fomos. O professor disse que a ideia é torná-la mais acessível em horário, tanto para alunos como para comunidade, mas há diversas dificuldades em fazê-lo. Por fim, visitamos as salas de aula que ficam no prédio principal e paramos em uma delas, voltada para a frente do prédio e rodeada de janelas centenárias da fachada, um ambiente muito agradável não fosse o barulho do Largo do Machado.
Nessa sala, conversamos por um bom tempo com o prof. Vitor Paulo, que deu suas impressões gerais do Ceac e do ensino público. Fiquei espantado com o volume de trabalho que ele tem como concursado de 40h. Ele deve ter 30 tempos de aula por semana, o que lhe dá a espantosa soma de 15 turmas diferentes, dois tempos semanais em cada. Vale lembrar que o tempo de 50 minutos muitas vezes é reduzido para 30, se contarmos a demora para a chegada de alunos em sala e a concentração de todos. Esse ritmo de trabalho não me parece nem um pouco produtivo, pois o professor tem um curto tempo com cada turma, e ministra aulas em muitas turmas diferentes, não podendo pensar mais detalhadamente nas necessidades e particularidades de cada grupo. Segundo o professor, na época dos CIEPs, no governo Leonel Brizola, as turmas tinham três tempos semanais de história, o que depois foi reduzido no governo Anthony Garotinho.
Pelo discurso do prof. Vitor Paulo, parece que ele é rígido na questão da disciplina, e não hesita em retirar um aluno de sala quando este o atrapalha no seguimento da aula. Ele também atentou diversas vezes para a necessidade de entrar no cotidiano do aluno para “quebrar o clima” da aula, quando esta parece muito monótona. A ideia de que somos nós que controlamos o ritmo da turma e impomos ou não o respeito necessário para realizar nossas atividades também foi reforçada diversas vezes. Na minha opinião, o professor tem uma relação difícil com a profissão, parece gostar do que faz e ter amor pelo magistério e pela educação em geral, mas, ao mesmo tempo, parece extremamente desacreditado com o que encontra na realidade de sala de aula, como o caso dessa condição precária de trabalhar em 15 turmas simultaneamente.
Falamos sobre as possíveis atividades a serem desenvolvidas, e o professor frisou que, primeiramente, gostaria que nós assistíssemos a aulas de diferentes disciplinas, para experimentar didáticas e tempos de aprendizagem diferentes. Depois dessa etapa, pensaríamos em atividades mais ativas envolvendo os alunos. Perguntei se há a possibilidade de realizar atividades fora do turno de aula dos alunos (extraclasse) e a resposta foi positiva, o que aumenta nosso universo de ação.
Deixei a sala pouco antes do fim da visita, pois tinha compromisso inadiável. Minha impressão geral sobre o colégio foi boa, apesar das dificuldades de depender sempre de verba pública, o que restringe a autonomia da unidade. A organização geral é boa, assim como as instalações. Não tivemos muito contato com os alunos nessa visita, o que acontecerá nos próximos encontros.